sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Parentalidade como catalisador de mudanças

Quando uso o termo parentalidade aqui, a idéia é substituir “maternidade” e “paternidade”, pois essa ação catalisadora pode acontecer independente de sexo biológico, gênero ou sexualidade.

É certo que, mesmo em 2015, ainda são as mulheres-mães que acabam sendo mais frequentemente e mais profundamente transformadas pela maternidade, quer queiram ou não. Ainda são elas que, na maioria dos casos, ficam em casa além da licença-maternidade, são elas que amamentam, são elas que levantam à noite. São elas que, ao retornar ao trabalho, por opção ou necessidade, assumem a maternidade como apenas mais um papel entre todos os que já desempenhavam. Mas nesse momento de retorno ao trabalho, nem sempre as coisas acontecem como esperado. As peças não parecem se encaixar e surge uma inquietação “inexplicável”. Ela não está feliz em casa com o filho, nem está feliz no trabalho longe dele. O trabalho não faz mais o mesmo sentido que fazia antes, ela é uma pessoa diferente.

Cobranças e julgamentos por todos os lados. Do empregador, desprezo por ter engravidado e “sugado” uma licença-maternidade, possível baixa na produtividade e arranjos de horários. É quase como se exixtisse algo no mundo mais importante do que a empresa – o horror! Do resto do mundo, o julgamento pela escolha de quem vai cuidar da criança. Deixar na creche não pode. Deixar com os avós não pode. Deixar com babá não pode. Deixar de trabalhar não pode. Falo da mulher porque geralmente é sobre ela que recaem sobre todas essas responsabilidades, escolhas e culpas, apesar de ela não ter engravidado sozinha.

Mas essas mudanças são apenas as mais comuns, quase compulsórias. Quero falar de mudanças muito mais profundas, daquelas que fazem com que as peças deixem de se encaixar. A parentalidade sacode e quebra verdades, principalmente para a pessoa que passa a ser o cuidador principal. Principalmente no primeiro filho, mas não necessariamente. Na mulher que gestou, geralmente se atribui essas mudanças ao puerpério. E o puerpério é, em parte, responsável por elas e um período ideal para mergulhar dentro de si mesma e viver essas transformações.

Atribuir essas mudanças apenas ao puerpério seria uma extrema simplificação. Os hormônios com certeza fazem sua parte, mas o surgimento de uma vidinha que depende da sua é o principal. Casais que adotam passam por isso, pais biológicos passam também,e avós ou quem quer que passe a ser responsável pelo bebê passa também. Desde que agarrem a oportunidade.

A parentalidade traz infinitos questionamentos e novas necessidades. Existem as perguntas que naturalmente trazemos conosco. Algumas pessoas mais, outras menos. Algumas pessoas as ouvem mais, outras menos. Passamos naturalmente por mudanças de paradigmas e crenças ao longo da vida. O que há de errado com o mundo? A que propósito serve minha vida? Existe possibilidade de mudança? Como posso tornar o mundo melhor?

Mas se você nunca se fez nenhuma dessas perguntas, a maternidade ou paternidade com certeza as trará. E o meu pedido aqui é, por favor, ouçam essas perguntas, essas mudanças que vêm do âmago, essa vontade de melhorar o mundo. Busquem uma resposta. Mesmo que não haja uma verdade absoluta, é a busca por ela que melhora as pessoas e, consequentemente, o mundo. Se você é ou está para se tornar mãe, o puerpério é o período ideal para isso. Se você é pai, mergulhe nisso. Se abra para a vulnerabilidade que um bebê representa.


Quando me tornei mãe, estive ocupada demais para ouvir todas as perguntas. Eu quis atender a muitas demandas, quis continuar a faculdade. Fiz o que precisava ser feito e não me arrependo. Mas isso me trouxe um processo de transformação muito longo, ainda em andamento. Por outro lado, conheci pessoas (sim, mulheres, as estatísticas não mentem!) que mergulharam profundamente em si mesmas nos primeiros meses de maternidade. E o resultado desse mergulho é impressionante. São essas mulheres que vou entrevistar em dezembro e janeiro, para começarmos o ano inspiradíssimos!